18.10.08

A vida na fazenda em três capítulos com final feliz

Capítulo 1

Abriu a janela, a luz invadiu o quarto, os mosquitos invadiram o quarto, a cobra invadiu o quarto. Olhou pela janela, a cerca estourou, a vaca fugiu, a laranjeira morreu, a Isildinha casou com outro.


Capítulo 2

Abriu a janela, a luz invadiu o quarto, os morcegos invadiram o quarto, o gambá invadiu o quarto. Olhou pela janela, a cerca estourou, a vaca, o bode, o cavalo e as galinhas fugiram, a laranjeira apodreceu, a Rosinha morreu.


Capitulo 3

Abriu a janela, a luz invadiu o quarto, os pássaros invadiram o quarto, a música invadiu o quarto. Olhou pela janela, a vaca pariu, a laranjeira floreceu. Pulou a janela e fugiu com Aninha, a mais bonita.

14.10.08

Projeção de uma vida sem graça para daqui a 50 anos


Hoje saí de casa para furar a bola que uns moleques deixaram cair aqui no quintal. Quando voltei, percebi que onde eu piso a grama morre e não nasce mais. Fiquei me sentindo um Rei Midas às avessas, sabe? Não que eu deteste crianças. Gosto é de manter respeito. É respeito que busco o tempo inteiro. As pessoas não têm mais respeito por nada. Ainda mais por velho, velho sem força, sem defesa. É por isso que eu ando com uma bengala. Não que eu precise dela, minha saúde é ótima. Eu uso a bengala para cutucar as pessoas na fila, no ônibus, na padaria. Essa gente lerda, sabe? Quando vê um velho finge que não viu. Com uma bengala cutucando o rabo quero ver quem é que não vê. Não que eu seja ranzinza. Eu quero é educar. Essa gente toda tá muito mal educada, não tem mais certo ou errado, não tem mais moral. É por isso que eu ando com uma bíblia pregando por onde passo. Não que eu acredite em Deus. Mas uma religiãozinha pra essa gente desmiolada faz muito bem, coloca um cabresto, sabe? Senão esse mundo vira uma pouca vergonha. Não que eu seja moralista. Já fiz muito, fiz mesmo, deu vontade eu fiz. Mas ninguém ficava sabendo. Hoje a gente passa na rua e só tem casalzinho bulinando. As moças novas andam com as pernas e o bucho de fora. Pra essas eu pego a bengala, mostro e balanço. Não que eu seja pervertido. Só estou entrando na onda. Não é pra mostrar o corpo? Então eu mostro!