6.9.09

Livre

Literalmente curado. O Laudo era pessimista, mas Lutei e venci. Terapia, fonoaudioLogia, Lobotomia. Hoje oLho peLa janeLa, contempLo os LiLases da Linda Luz matinaL e fico aqui, Lesado, Lembrando do tempo Liquidado na Loucura. Livre do deLírio, refLito se a Liberdade do Léxico é assim tão Leviana. FaLa, Latido e excLamação. A paLavra Levada a Lugares diferentes da Língua. São Lambidas de adrenaLina que estimuLam a eLocução Livre e o debeLar de síLabas Lacônicas interLigadas num Lindo, Leve, Livre e Límpido diáLogo soLitário.

22.7.09

A Verdade



Arrastado pela multidão. Não se calou. “Jesus era morenão do cabelo biro biro!”. “O Ronaldo comeu o travesti”. “A loteria lava dinheiro de deputado”. “A Britney é uma gorda que faz playback”.

Chicoteado, apedrejado, espancado, perfurado. Não se calou. “Tiradentes não foi herói”. “O iogurte que faz cagar não funciona”. “Eles mandam passar o shampoo duas vezes para roubar o seu dinheiro”. “Zoom digital só serve pra estragar suas fotos”. “Tecnologia sem fio foi inventada para obrigá-lo a comprar muitas e muitas pilhas”.

Foi jogado vivo em fogo ardente. Não se calou. “Deus não existe”. A multidão caiu em desespero. Daí em diante, os gritos desenfreados nos impediram de ouvir suas últimas palavras, que versavam sobre a verdadeira formação do universo e sobre a composição do refrigerante de cola que tanto amamos.

9.6.09

Especial dia dos namorados


Diz putinha: o que é o amor?

A forma mais consistente de amor que experimentei na vida foi o materno. Doces afagos e carinho constante até o dia em que ela me vendeu para o vizinho velho em troca de uma vaca.
Nesse mesmo dia, a idéia de amor romântico se desfez. Beijo é sujo, pele é suja, homens são sujos. Todos eles. Talvez eu sinta um pouco de amor próprio. Acho que é isso: o amor que eu mais sinto é o próprio. E foi por esse motivo que eu, nesse mesmo dia, matei o velho, pulei a cerca e cortei a garganta da vaca. 
Desde então trabalho com sujeira, saliva, suor e porra quente. Sou uma suja que trabalha com a sujeira de estranhos. E é isso que vou fazer até minha buceta não valer mais um centavo.
Amor é uma coisa de embalagem de paçoca.

24.5.09

...


Alguém pule aqui por favor.

10.5.09

28.4.09

Diálogo com Mamãe


– Pisei na merda.
– ...
– No sapato ou na vida?
– No sapato. A vida já tá muito pisada.
– Ah bom, quando você fala essas coisas a gente até assusta.

26.4.09

A zebra vermelha dos ringues


O delinqüente aponta uma faca. – Passa a bolsa piranha, bico fechado senão te rasgo intei... – Pulso quebrado, imobilizado e com uma sandália plataforma no focinho. 

Jogado ao chão e pisoteado, pensou em toda a sua comum trajetória: mãe bêbada, pai ladrão, balas no farol, primeiro roubo, primeiro cachimbo. Então sua memória chega ao ápice da sua vida. Atacado pela mulher mais cheirosa do mundo, nunca havia sentido perfume tão doce e pele tão macia, feroz e agressiva. Chorou como criança. 

 ­– Mas é um merda mesmo. – Chutou a bunda dele e foi para o ginásio.

Blusa vermelha com estampa de zebra, vestimenta comum em todos os seus combates. A platéia grita numa catarse de fúria e excitação: “Red Zebra! Red Zebra! Red Zebra!”.

Com extrema fatiga daquilo tudo, observa a adversária, uma ucraniana de 120 kg, cabelos vermelhos raspados nas laterais, macacão amarelo sujo e dentes podres.

No primeiro round a representante da Ucrânia apertou os peitos de Red Zebra. No segundo foi nocauteada com um único soco. No dia seguinte mandou flores e um cartão, no outro bombons e no outro voltou depressiva para a Ucrânia, virou alcoólatra e se vestia de zebra até seus últimos dias no sanatório.

Invicta, longos e negros cabelos cacheados, seios fartos, alta, muito alta, grandes argolas de prata nas orelhas, riso alto e boca vermelha. Invicta. Nenhum adversário jamais ousou nocauteá-la. Grande frustração. Não sabia se se tratava de pena, admiração ou subestimação. 

Red Zebra segue com a angústia de nunca ter encontrado um verdadeiro desafio no ringue.