28.4.09

Diálogo com Mamãe


– Pisei na merda.
– ...
– No sapato ou na vida?
– No sapato. A vida já tá muito pisada.
– Ah bom, quando você fala essas coisas a gente até assusta.

26.4.09

A zebra vermelha dos ringues


O delinqüente aponta uma faca. – Passa a bolsa piranha, bico fechado senão te rasgo intei... – Pulso quebrado, imobilizado e com uma sandália plataforma no focinho. 

Jogado ao chão e pisoteado, pensou em toda a sua comum trajetória: mãe bêbada, pai ladrão, balas no farol, primeiro roubo, primeiro cachimbo. Então sua memória chega ao ápice da sua vida. Atacado pela mulher mais cheirosa do mundo, nunca havia sentido perfume tão doce e pele tão macia, feroz e agressiva. Chorou como criança. 

 ­– Mas é um merda mesmo. – Chutou a bunda dele e foi para o ginásio.

Blusa vermelha com estampa de zebra, vestimenta comum em todos os seus combates. A platéia grita numa catarse de fúria e excitação: “Red Zebra! Red Zebra! Red Zebra!”.

Com extrema fatiga daquilo tudo, observa a adversária, uma ucraniana de 120 kg, cabelos vermelhos raspados nas laterais, macacão amarelo sujo e dentes podres.

No primeiro round a representante da Ucrânia apertou os peitos de Red Zebra. No segundo foi nocauteada com um único soco. No dia seguinte mandou flores e um cartão, no outro bombons e no outro voltou depressiva para a Ucrânia, virou alcoólatra e se vestia de zebra até seus últimos dias no sanatório.

Invicta, longos e negros cabelos cacheados, seios fartos, alta, muito alta, grandes argolas de prata nas orelhas, riso alto e boca vermelha. Invicta. Nenhum adversário jamais ousou nocauteá-la. Grande frustração. Não sabia se se tratava de pena, admiração ou subestimação. 

Red Zebra segue com a angústia de nunca ter encontrado um verdadeiro desafio no ringue.